CORAÇÃO PORTO-TORRENSE
Todas as ruas...
De Porto Alegre,
Encantaram-me de maneira tal.
Que meu ser sentiu-se mal,
Quando meu triste olhar,
Disse adeus à velha capital.
Quando meu corpo,
Incrustado a divagar
em outro corpo de aço e lata e esguio.
Deslocava meu eu,
Meu ser e meus passos,
Em direção ao mar.
Há muitas cidades que serem vistas,
Mas tu, peito cruel assistas,
Ao sofrer desse penante.
Qual destino xucro segue,
Minha alma está em Torres
E meu coração em Porto-Alegre.
Por: Edison Cardoso Teixeira.
ENCONTRO DAS ALMAS
As tuas coisas, eu não as vejo,
Ao adentrar a sala vazia,
Onde estarão os teus desejos?
Que eram as minhas fantasias.
Sou andarilho pela casa,
Busco tua aura em cada canto,
Dentro do peito coração é brasa,
No rosto escorre o pranto.
Me dói não só a tua ausência,
Mas pensar no tempo que durará,
Me dói não só a abstinência,
Mas lembrar, teu pulso não pulsará.
Ensaio um sorriso de lembranças,
Das coisas tão boas de nós dois,
A tua alma é a minha esperança,
De que haverá um jeito depois.
E passo assim meu fúnebre marasmo,
As fotos não mais me consolam,
Quando lembro teu nome, pasmo,
E os porquês sem resposta me desolam.
Inda que teus olhares eu tenha guardado,
Meu nefando ser em mim grita,
Num tétrico tom alucinado,
Um que sonhava uma vida infinita.
Estendo a mão em direção ao nada,
Buscando desesperado teu toque,
Desejando a tua mesma estrada,
Minha liberdade num choque.
Sinto calafrios e alívio eu imploro,
Algo de mim se esvai na tarde calma,
Parece meu amor, que não me demoro,
Para o nosso encontro das almas.
Por: Edison Cardoso Teixeira.
SOTURNO
O que me dizes a gotejar saudosa chuva,
Se disseres, nessa fria noite, me diga logo,
Pois, sou como a mão sem o seu par de luvas,
Que me restaure dos porquês, eu te rogo.
Há, que na hora dessa triste indecisão,
Que de tão minha a ninguém a retribuo,
Tais ais profanarem a leveza do meu coração,
Pesar soturno que eu mesmo perpetuo.
Quem me construiu essa densa solidão,
Fez de meus passos os meus desalentos,
E nesses descaminhos sem certa emoção,
O que era uma vida são sequer momentos.
Já, as negras nuvens anunciam chuvarada,
Inda que deságue no linear do meu destino,
Meu trigueiro passado é uma porta fechada,
Meu presente soturno é um sóbrio desatino.
Então busquei sensata paz numa união,
E até, também não vagar por aí a esmo,
Foi numa lágrima vinda de um áspero não,
Que me esqueci da vida e de mim mesmo.
Foi tal adeus que me tornou irrelevante,
Fez meu olhar sombrio, triste, noturno,
Cujo tal, não deixou palpitar o bastante,
Ansioso coração, nesse meu peito soturno.
Quando as quimeras me povoam sem alarde,
Eu, pesaroso, conto um tempo nem restante,
Dizem que o amor nunca há de vir tão tarde,
Mesmo para quem suspeita amar o bastante.
Deslumbrado ser diante de uma catedral,
Animal ocioso com seus hábitos taciturnos,
Garimpando resquícios de uma vida banal,
Desempolgado ego, perambulante soturno.
Por: Edison Cardoso Teixeira.
VISITA
Numa brisa que me embala,
A visita adentra a sala,
Um gaúcho trazendo um pala,
A xirua e suas malas.
Vindos com tal seca e estio,
Com um lampião sem pavio,
Um tanto xucros e arredios,
Cabisbaixos e peito vazio.
Vieram dalgum horizonte,
Lá de onde se avista os montes,
E nem querem que eu lhe conte,
Dos seus dias tristes de ontem.
Das suas sombrias auroras,
Da mágoa que do peito aflora,
Das cruéis incertezas de agora,
Do que lhes fez vir embora.
Uns que vieram de longínquo pampa,
Que em seus rostos ainda estampa,
A amargura que à sua volta encampa,
Que faz da vida uma ladeira, rampa.
Testemunho sua nova jornada,
Inda que não ande pela sua estrada,
Posso sentir suas almas derrotadas,
Mas celebro ao vê-los de mãos dadas.
Mesmo que seja latente ironia,
Mesmo sendo causadores de agonia,
Só não tem sonhos quem não fantasia,
Quem não busca de volta a alegria.
Ela olha nos olhos dele aflita,
Atestando aquela sorte maldita,
Eu os acolho na minha sapiência infinita,
Eles são meus pequeninos, minha visita.
Por: Edison Cardoso Teixeira.
ASSASSINO
Ela estava linda,
Sorrindo elegante,
No vestido verde-oliva,
Sedutor e provocante.
Seu sorriso era sol,
Iluminava a festa,
Iluminava o arrebol,
Na noite de seresta.
Sua presença provocava,
Pensamentos de euforia,
Num canto alguém soluçava,
Enquanto a turba sorria.
Num dado momento,
Seu perfume se sentia,
Despertava o sentimento,
Louca paixão e agonia.
A paixão era antiga,
Pouca gente sabia,
Queria ser só sua amiga,
Na hora o sangue fervia.
Há uma linha bem frágil,
Entre amor e possessão,
O amor liberta, é hábil,
E possuir é uma ilusão.
Ele não se conformava,
Em amar sem ser amado,
Sua vingança planejava,
Uma tocaia e tudo acabado.
Foi terror na madrugada,
Depois chorar feito menino,
Mãe gritou inconformada,
No meio do tribunal, assassino.
Por: Edison Cardoso Teixeira.